Sem dúvida que
para alguns jogadores a carreira quase se pode resumir a um único jogo. O jogo
onde se transcendem. O jogo onde brilham e onde, diga-se, jogam mais do que
sabem. Há jogos assim, e no campeonato nacional temos alguns destes fogachos.
Recordo-me uma vez, em que vinha com alguns familiares de um dia de praia (não
sei onde) no final de Agosto, portanto tinha ideia que se tratava de um jogo de
início de campeonato (confirmei agora e tratava-se da segunda jornada), e no
carro vinha a dar o relato de um clássico do futebol nacional: Belenenses –
Futebol Clube do Porto. Como qualquer benfiquista com 10 anos de idade (falamos
da época 2000/01), lá vinha eu no banco traseiro, mais morto que vivo
desgastado por um dia a jogar à bola na areia, a torcer solenemente para que os
azuis do restelo ganhassem a partida. E a verdade é que ganharam, por 2 bolas a
zero. E é aqui que entra: Eliel. É aqui que entra, e no que á história do
campeonato português diz respeito é quase aqui que sai. Este brasileiro bisou
na partida (marcou aos 38 e 52 minutos), e colocava com 6 pontos os homens da
cruz de Cristo na liderança do campeonato (onde presumo não tenham estado muito
tempo). Eliel animou-se e uma semana depois voltava a faturar no empate dos
Lisboetas a duas bolas em casa do Beira-Mar. E a partir daqui: Adeus Eliel. Até
ao final do campeonato mais 18 jogos e um golo, da marca de penalti, ao Leiria
na jornada 21! Se olharmos para a carreira deste prodígio brasileiro vemos
nomes de alguns clubes de respeito no Brasil, como por exemplo o São Paulo, a
Portuguesa de Desportos e o Curitiba. Pelo meio passagens pela Rússia, Coreia
do Sul e Japão… todas com o mesmo destino que em Portugal: um ano, e guia de
marcha. No entanto compreende-se que quando chegou fosse grande esperança para
os lados do Restelo. Tinha um currículo invejável ao pé de alguns que por aí
andaram (e andam). Começou por fazer-lhe jus. Durou pouco. E voltou para o
Brasil, para as divisões secundárias, por onde andou até aos fim dos seus dias
como jogador. Para contar aos netos fica a história, do jogo que marcou 2 golos
ao Porto, e deu a vitória à sua equipa. Se quiser adotar uma postura ainda mais
heroica pode socorrer-se da classificação: sem aqueles dois golos a
classificação do Belenenses não se alteraria (7º lugar), mas sem aqueles dois
golos o Boavista ainda não contava com nenhum título de campeão nacional, esse
tinha voada para as Antas… mas não voou, porque Eliel escolheu aquele dia 27 de
Agosto, para se transcender, para brilhar… para jogar mais do que sabe…
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