A Caderneta da Panini vai de novo
recuar até aos meus nostálgicos anos 90, e subir até ao Norte, especificamente
ao Minho, para falar daquele que é o jogador do Vitória de Guimarães desses
tempos que mais me recordo: Gilmar! Desse Vitória, antes de mais nada, do que
me lembro com mais entusiasmo é do equipamento. Na minha opinião o mais bonito
que o clube da cidade berço teve desde que vejo futebol. Era uma indumentária
da Adidas, com um patrocínio à farmacêutica Bayer, que só por si já conferia um
estatuto de “grande” e “internacional” a este VSC. E a verdade é que por estes
tempos era mesmo. Não que agora não o seja, mas recordo-me de uma mítica
eliminatória contra o Parma (na altura um poderoso Parma, com jogadores como Buffon,
Canavarro, Chiesa ou Crespo nas suas fileiras), que fez parar toda a cidade, em
que depois de uma derrota por 2-1 em Itália a equipa portuguesa bateu os
transalpinos por 2-0 no D. Afonso Henriques, seguindo para a eliminatória
seguinte onde cairia aos pés dos Belgas do Anderlecht. Se formos ver agora,
estamos a falar de um Vitória com Zahovic, Capucho, Neno, Fernando Meira ou Vítor
Paneira… mas o curioso é que se me perguntassem isso quando me comecei a
escrever este texto: “Diz-me o nome de um jogador que pertencia à equipa do
Vitória de Guimarães que arrumou com o Parma da Taça UEFA?” Eu só teria duas
respostas: Gilmar ou Arley. Arley, e para rematar já esta questão porque achava
piada ao nome deste brasileiro e ao seu cabelo muito pouco penteado nos cromos
da minha caderneta Panini. Gilmar, porque a ideia que tenho dele é a de um dos
melhores pontas de lança que passou em Portugal a jogar fora dos “três grandes”.
É óbvio que isto quando se fala de “três grandes” está-se a meter de lado, na
minha opinião injustamente a verdadeira alma vitoriana, mas certamente todos
entendem o que quero dizer por isto. A minha ideia está longe de estar errada.
Pelo menos é isso que dizem os números de Gilmar na primeira liga portuguesa:
Nas 5 épocas no Vitória (e pelo meio a época de 95/96 que para o avançado foi
para esquecer), marcou 48 golos só no campeonato. A uma média de quase 10 golos
por época, sendo que nunca fez mais que 30 jogos (recorde-se que na altura o
campeonato tinha 34 jornadas). Não são muitos os avançados que se podem
orgulhar de fazer uma dezena de golos por época durante 5 épocas no mesmo
clube, não sendo esse mesmo um declarado candidato ao título. Pois bem, Gilmar
pode. É por isso que eu o recordo. E provavelmente por jogar num ou no melhor
Vitória de Guimarães da minha era…
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
domingo, 14 de outubro de 2012
10. Andrzej Juskowiak (Sporting 92-95)
Já aqui falei de Mielcarski, um dos jogadores do FC Porto com quem mais simpatizava dos anos 90, e agora chegou a vez de falarmos daquele que era o jogador do Sporting CP, que usufruía de um estatuto idêntico. Curiosamente também era Polaco, também ele avançado, e o seu nome conseguia ser ainda mais difícil de pronunciar: Andrzej Juskowiak! As razões para eu gostar deste jogador nada tinham a ver com algum jogo sinistro para a GameBoy Color como o antigo jogador do Futebol Clube do Porto, mas sim a um golo que eu me recordo apontado por este avançado oriundo da Polónia que vi vezes sem conta numa daquelas cassetes de VHS que não me cansava de ver e hoje não me canso de recordar. Lembro-me que esta em particular remontava a época de 93/94, porque era aquela que eu via mais vezes, pois de todas as que possuía era a única em que no final a festa do título era feita a vermelho e branco. Recordo-me perfeitamente do golo em questão: um cruzamento meio atabalhoado do lado direito, para as costas do ponta de lança leonino e este num gesto acrobática consegue improvisar um pontapé de bicicleta e finalizar o lance com um grande golo. A verdade é que embora me recorde desta parte, se não tivesse acesso ao YouTube nunca vos poderia dizer quem era o adversário do Sporting nessa partida… era o Boavista, o jogo foi no antigo José de Alvalade e a equipa Lisboeta derrotou os Axadrezados por 3-1… Confesso, tudo que ainda estava na minha cabeça era aquele passe imperfeito e o gesto técnico irrepreensível do ex. leão. Se me perguntassem se Juskowiak era uma avançado monumental eu responder-vos-ia, de antemão que sim, porque para mim ele era apenas e só o homem que sacou daquela obra-prima. Vendo agora os seus números na Liga Portuguesa, com uma visão mais clara e não encantada pelos meus tempos a ouvir os comentários do Sr Gabriel Alves, parece-me claro que não estamos a falar propriamente de nenhum ás dos relvados. O Sporting adquiriu os seus direitos desportivos no principio da época 92-93, ao Lech Poznan, e por cá andou 3 épocas até se aventurar no futebol grego para representar os Atenienses do Olympiacos. Tal como eu disse anteriormente não sendo nenhum ás dos relvados tem uns números interessantes para um ponta de lança que não era dono do estatuto de titular indiscutível: 25 golos em 3 temporadas, no campeonato, com o score de 9, 6 e 10 golos na primeira, segunda e terceira temporadas respetivamente. E as minhas memórias Juskowiak ficam-se por aqui. Este Polaco encantou-me apenas e só com aquele golo, que apesar de tudo teve o condão de fazer um miúdo de 4 anos de idade perpetua-lo na memória por quase duas décadas, mesmo não tendo sido ele nenhuma das estrelas maiores do nosso campeonato… Apesar de tudo tenho que dizer que eu recordar-me disto sou invadido pela nostalgia, que me faz lembrar que eu já fui criança… e me faz lembrar o quanto eu amava e amo a ARTE do futebol, independentemente da camisola que os artistas tivesses vestida, e a prova viva disso é: Andrzej Juskowiak!
sábado, 13 de outubro de 2012
9 - Paulo Turra (Boavista 01-04)
Bem a caderneta da Panini presta
agora homenagem àquele que é possivelmente dos jogadores mais caceteiros de que
tenho memória a jogar no futebol português: o antigo central do Boavista Paulo
Turra! Para mim este nome há-de sempre ser sinónimo de “paulada no osso” aos
adversários, daquela que até doía só de ver. Era um jogador impetuoso, que
limpava tudo que mexia e lhe aparecia à frente. A verdade é que se observamos
os registos do jogador no campeonato português vislumbramos que só lhe foi exibida
por três vezes a cartolina vermelha (para este senhor isto parece-me muito
pouco) duas das vezes em jogos contra o Sporting CP, e tenho a certeza que em
ambas as situações, nas palavras de Jaime Pacheco foram mal mostrados, embora
Jaime Pacheco começa-se sempre as suas críticas com a frase “Toda a gente sabe que
não gosto de falar dos árbitros, mas…”. Contextualizando a contratação de Paulo
Turra o que vemos é que o Boavista tinha acabado de ser campeão e precisava de
construir um plantel pronto a atacar a Champions Legue. Ora sabendo-se do gosto
deste Boavista pelo futebol bem jogado a decisão da equipa técnica axadrezada
achou por bem resgatar este brasileiro à equipa do Palmeiras. Decisão que
porventura, anos mais tarde julgo que podemos dize-lo, não foi bem recebida
pelos avançados mais tecnicistas do nosso campeonato. Contudo a equipa
Portuense acabou por fazer uma caminhada interessante na maior competição de
clubes da UEFA, caindo apenas na segunda fase de grupos (na altura que o
organismo que regula o futebol europeu resolveu inventar uma geringonça muito
manhosa que só durou duas épocas…), num grupo onde também figuravam Manchester
United e Bayern Munique. Tudo isto porque, possivelmente, Paulo Turra era um
jogador que do ponto de vista defensivo, com os seus métodos pouco
aconselháveis lá ia cumprindo. Fisicamente era forte, recordo-me que a sua
aparência fazia-me sempre lembrar um imigrante de Leste, mas os seu pés não
eram um porto seguro para os seus companheiros de equipa colocarem a bola. Era
o típico central do recebe e alivia que a baliza está já aqui atrás e ninguém
quer problemas… A verdade é que nos seus 4 anos em Portugal (3 no Bessa e um
depois em Guimarães) marcou mais golos que Anderson Polga: 2, Nacional da
Madeira e Sporting de Braga foram as vítimas deste portento do futebol que
andou por aí a espalhar o seu perfume pelos nossos relvados. Depois disto, em
2005, quando já vestia a camisola do Vitória do Minho abalou para a Escócia
(definitivamente um futebol à medida de Paulo Turra), para representar o
Hibernian. Só lá esteve um ano, depois tirou o bilhete de volta para o Brasil e
ali acabou a sua carreira a jogar pelo Avaí. Na minha memória vão ficar sempre
aquelas entradas impetuosas e aqueles pés que eram um verdadeiro susto…
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
8. Grzergorz Mielcarski (FC Porto 95-99)
Vamos falar agora daquele que é
porventura o jogador do Futebol Clube do Porto com o qual eu tenho a história
mais curiosa de simpatia… Por partes: tinha eu os meus 10/11 anos de idade, e
como qualquer benfiquista com esta idade as minhas conversas sobre futebol
resumiam-se a quando o Porto perdia (o que infelizmente não acontecia tantas
vezes quanto isso), chegar ao pé dos meus colegas Portistas e cantar algo do
género de: “O Porto perdeu… Toma, toma, toma”, e pronto basicamente era isto,
que acho que era o que todos fazíamos na época da escola primária. Mas toda
esta rivalidade era posta de lado quando chegava a casa. Eu tinha um GameBoy
Color, com o fantástico jogo VRonaldo, e nela jogava quase sempre com o mesmo
clube: O Futebol Clube do Porto. Porque razão? Porque jogava lá Grzegorz
Mielcarski! Para quem nunca jogou VRonaldo eu passo a explicar: o jogo tinha
uns gráficos que pouco tinham a ver com o PES 2013 como devem imaginar, e a uma
das coisas que me recordo é de que quando se marcava um golo apareciam um
placard muita manhoso, com a palavra “Goal”, e com o nome do jogador que tinha
faturado por baixo. E era aqui que eu gostava de ver o nome Mielcarski. A
piscar naquele placard. Como é óbvio aqueles jogos da GameBoy eram pouco
elaborados e ao fim de 1 mês eu já conhecia as manhas de cor. E assim sendo eu
jogando no modo difícil ganhava os jogos todos por 15-0. Era por isso que
jogava no fácil… para ganhar por 30, e ver 30 vezes aparecer o nome de
Mielcarski aparecer o raio do placard. Eu conseguia fazer 20 jogos seguidos,
passar três horas a massacrar aquelas teclas, e sempre a fazer a mesma jogada,
só para ver aquele nome aparecer. A jogada era simples: Roubava a bola na saída
de bola da equipa adversária, corria em frente (ninguém me tirava a bola o que
era fantástico) e depois remate em arco á entrada da área e GOLO DE MIELCARSKI!
E fazia isto repetidamente, centenas e centenas de vezes, ao longo de horas e
horas, sempre a mesma jogada, sempre exatamente a mesma coisa, de tal forma que
até hoje ainda não sei como é que ninguém desconfiou que eu era autista. O
motivo, a força que me movia era só ver o nome de Mielcarski. Vi este nome
aparecer ali milhares de vezes (sim porque o homem marcava aos 600 e 700 golos
por época), e hoje, antes de começar a escrever este texto, tive que ir ao
Google pesquisar como se escrevia de forma correta o nome deles. É a beleza que
tem a nossa infância, conseguimos entrar numa dimensão surreal, porque se
formos a ver bem a melhor época de Mielcarski foi a de 97-98 onde marcou 3
golos… mas, pelo menos para mim, há-de ser sempre a estrela maior do VRonaldo…
7. Verona (Belenenses 99-03)
Com a minha
ida a Atenas o blog da Caderneta da Panini sofreu uma pequena interrupção, mas
como tudo que é bom volta sempre, aqui está o tão desejado regresso. E que
melhor maneira para voltarmos em grande do que falarmos de um jogador cujo seu
nome é igual ao nome da cidade onde Romeu viveu uma linda paixão com Julieta?
Quando digo isto, todos já devem ter percebido por certo que estamos a falar do
antigo avançado do Belenenses: Verona. É um jogador, que mais uma vez confesso,
só me lembro de alguns relatos radiofónicos e de uma ou outra transmissão
televisiva. O seu nome no entanto ficou-me gravado na memória. Porquê?
Simplesmente porque se chamava Verona. A verdade é que eu hoje em dia, muito
provavelmente, nunca teria grande confiança num jogador com este nome, é
daquelas coisas que me deixava logo de pé atrás, mas na altura achava-o bom
jogador… porque tinha 10 anos… e ele se chamava Verona! Como é que eu com 10
anos podia não gostar de uma jogador chamado Verona? E é por isso que neste
momento sinto que toda a minha infância se desmoronou. É triste descobrir que o
Verona dos meus tempos de criança, dos meus domingos à tarde colado ao rádio,
sem ouvir nada mais ou mais ninguém, se chama afinal Meirival Bezerra, e que
aquele épico nome, pelo menos para mim, não passava de um apelido, que algum
criador de sonhos decidiu dar a este Brasileiro, para depois destruir ao fim de
todo este tempo… (e escusado será comentar a confiança que eu depositaria num
jogador chamado Meirival Bezerra…). Mas deixando a semântica de lado e passando
para o futebol propriamente dito, a verdade é que Meirival (para mim Verona
morreu pela rádio), passou 6 épocas em Portugal, quatro delas nos azuis do
restelo, que o contrataram ao Estrela da Amadora, onde passou uma temporada, e
para onde voltou para cumprir a sua última época em Portugal, embora metade
dela tenha sido passada no Olivais e Moscavide (é o que acontece a quem não
respeita os sonhos de crianças apaixonadas por futebol como eu…), e
principalmente é o que acontece a um avançado que faz 24 golos em 6 épocas em
137 jogos (já para não falar dos 29 cartões amarelos, estamos portanto a falar
de um avançado mais caceteiro do que finalizador). Por estes número o que
aparece daqui para a frente no seu currículo não deve ser surpresa para
ninguém, voltou ao Brasil e representou colossos como: Aparecida (e é
fantástico haver um clube com este nome), Canedense, Formosa, Araguaia,
Potiguar, Mixto ou Inhumas (oi?), todos clubes portanto cujo o nome soa a algo
como coletividades a jogar nos campeonatos INATEL da distrital de Beja. Mas a
verdade é que por alguma razão eu gostava imenso deste jogador, e aqui fica a
prova, que quando se tem a inocência dos nossos 10 anos, e gostamos
simplesmente de ver uma bola a rolar no tapete verde, as nossas adorações são
inexplicáveis, e a minha alegria a desembrulhar o cromo do avançado Meirival
era a mesma com que desembrulhava um do avançado Mário Jardel…
domingo, 7 de outubro de 2012
6 - Mladen Karoglan (SC Braga 93-99)
O Sporting de Braga dos anos 90
não era o Braga de hoje em dia. Quando pensamos nos Minhotos de hoje em dia,
vemos uma equipa capaz de se intrometer na luta pelo título. A equipa desta da
última década do século passado não. Era uma equipa de nível mediano, ainda em
processo de evolução, e que em anos bons conseguia, no máximo entrar na luta
pela Europa. Embora jogar em Braga nunca fosse fácil para ninguém, era uma
equipa já com alguns jogadores interessantes e alguns deles mesmos marcantes, e
eu recordo-me de muitos deles. Lembro-me que tinha aquelas cadernetas de cromos
e algumas cassetes de VHS com resumos dessas épocas e de ambas, um dos
jogadores dos Arsenalistas que mais me recordo dos tempos de miúdo era este
avançado Croata: Mladen Karoglan. Como boa parte dos jogadores desta altura, de
nível médio, que me vêm à memória, não existe nenhuma razão aparente para eu me
lembrar deste em particular. Simplesmente porque talvez o nome Karoglan me soe
mais “estranho” que os dos outros jogadores que por cá andavam (nesta altura o
nosso campeonato ainda tinha muito jogadores portugueses, daí o nome Karoglan
não me soar tão familiar, e talvez por isso o ter decorado), o que é certo, é
que este jogador andou por cá 8 épocas (6 delas no SC Braga) e acabou mesmo carreira
no Minho. Veio do seu país de origem da Croácia, na altura representava o NK
Zagreb, no ano de 91 para representar o Desportivo de Chaves, que por esta
altura contratava muitos jogadores de leste, e na época seguinte fez 10 golos
no campeonato pelos Flavienses. Talvez tenha sido isso que tenha chamado a
atenção dos dirigentes de Braga, que no inicio da época 93-94 o levaram para o
1º de Maio. Das minhas cassetes de VHS lembro-me de alguns golos deste jogador,
não me recordo muito bem se era de grande qualidade ou não, mas a verdade é que
durante a meia dúzia de anos que passou em Braga marcou 55 golos (só no
campeonato). Curiosamente, e apesar de me lembrar de ver golos deste jogador,
só dois me estão de facto gravados na memória: foram na última jornada do
campeonato 97-98, o Braga recebia o Sporting, e batia os leões por 2-0 a zero,
com dois tentos de Mladen Karoglan, no mesmo dia o Vitória de Guimarães batia o
Vitória de Setúbal e alcançava a sua melhor classificação de sempre até à
altura, um terceiro lugar. Foi daqueles que me ficou gravado na memória apenas
pelos vídeos que assistia na televisão de minha casa, vezes sem conta, quando
era criança, daquelas cadernetas da Panini, e porque na altura, os Bracarenses
tinham um equipamento que eu achava imensa piada, com as bandeiras do Feira
Nova estampadas na frente, e com elas, a correr pelos relvados do 1º de Maio,
um Croata: Mladen Karoglan…
5 - Sigurd Rushfeldt (Benfica 99)
Vamos falar agora de uma das
melhores piadas da história do futebol Português. O que não falta ao nosso
campeonato é uma lista infindável de flops, é quase uma classe à parte de
jogadores que fica gravada na nossa memória pelas piores razões. Mas o jogador
que se segue não é um flop, é mais que isso: é uma cena triste, mas para quem
se lembra quase de ir às lágrimas de tanto rir, que por cá passou. Vamos
contextualizar: Corria o ano de 1999, o Benfica preparava a nova época, na
altura presidido por João Vale e Azevedo (e logo aqui se vê que não vem boa
coisa), e buscava no mercado um ponta de lança. Nos jornais correu muita tinta,
como de costume aliás, mas o Benfica finalmente anunciou um nome. Tratava-se de
um avançado Norueguês, que fazia parte de uma seleção do seu país com alguns
nomes sonantes e quando estes nórdicos ainda metiam medo a alguém, e era
porventura por esta altura um ou mesmo o jogador mais importante de um muito
respeitável Rosenborg, com presença reservada todos os anos na Liga dos
Campeões. Com um nome assim os jornais abriram às 13h, com pompa e
circunstância para o anunciar: Rushfeldt ia jogar no Sport Lisboa e Benfica! Lá
estava ele na sala de imprensa do estádio da Luz, com a camisola encarnada
vestida, lado a lado com Vale e Azevedo e o discurso do costume: “Tenho muito
para dar a este clube, e espero ficar aqui muitos anos!”. Não ficou, e é aqui
que a piada começa. O problema é que por esta altura o avançado nórdico ainda
não tinha o papel assinado, e como tal os seus direitos desportivos ainda não
pertenciam ao Benfica. Nada que tenha inibido Vale e Azevedo de o fazer pisar o
relvado da “velhinha” Luz, dar os habituais toques na bola diante de umas boas
centenas de adeptos que queriam ver a nova estrela do seu clube ao vivo e a
cores pela primeira vez. O aparato foi enorme, mas o restante elenco
“benfiquista” já andava por outras paragens, a Áustria, onde a equipa
estagiava. Sem demoras, no dia seguinte Rushfeldt já lá estava, a iniciar o
estágio e a dar nas vistas. Tudo isto era perfeitamente normal, se ele fosse de
facto jogador dos Lisboetas. Não era. E durante essa semana foram sendo
públicas noticias sobre a alegada impaciência do Rosenborg para que o Benfica
entrega-se as garantias financeiras relativas à transferência do jogador. Ora
se há coisa que o Benfica dos anos 90 não tinha era garantias financeiras. O
Rosenborg cansou-se de esperar, o empresário do jogador também, como tal, ainda
menos de uma semana depois, enfiou o jogador dentro de um avião em Viena, sem
qualquer tipo de justificações, e ao final dessa tarde, com Vale e Azevedo
certamente com cara de parvo e sem saber o que se passava, Rushfeldt era de
novo apresentado, em mais uma pomposa cerimónia, como jogador do… Racing de
Santander! O presidente do Benfica ficou louco com aquelas movimentações todas
(provavelmente porque não sabia que para contratar um jogador era preciso
paga-lo), e no dia seguinte veio dar um das conferências de imprensa mais
marcantes e cómicas da história do nosso futebol, quem não se lembra destas
palavras, devia lembrar-se, são de ir às lágrimas. Segundo o ex. presidente dos
encarnados, o clube não contratou Rushfeldt, não por não ter dinheiro, mas sim
porque, e passo a citar: “Quando levei o Rushfeldt ao relvado da Luz, perante
todos aqueles adeptos, tivemos que voltar ao balneário, porque Rushfeldt tinha
mijado nas calças…”. Julgo que isto retrata muito bem aquilo que foi a gestão
de Vale e Azevedo. Para a história fica uma situação no mínimo hilariante,
desde a contratação que nunca existiu, ao facto do jogador ter feito uma semana
de pré-temporada com uma equipa pela qual ainda não tinha assinado, até estas
declarações deliciosas de Vale e Azevedo. Quanto a Rushfeldt nunca teve direito
a cromo da Panini, talvez tenha tido direito àquela camisola com o seu nome
estampado, e provavelmente para alguns, ficou com a fama de sofrer de
incontinência urinária…
sábado, 6 de outubro de 2012
4 - Eliel (Belenenses 00-01)
Sem dúvida que
para alguns jogadores a carreira quase se pode resumir a um único jogo. O jogo
onde se transcendem. O jogo onde brilham e onde, diga-se, jogam mais do que
sabem. Há jogos assim, e no campeonato nacional temos alguns destes fogachos.
Recordo-me uma vez, em que vinha com alguns familiares de um dia de praia (não
sei onde) no final de Agosto, portanto tinha ideia que se tratava de um jogo de
início de campeonato (confirmei agora e tratava-se da segunda jornada), e no
carro vinha a dar o relato de um clássico do futebol nacional: Belenenses –
Futebol Clube do Porto. Como qualquer benfiquista com 10 anos de idade (falamos
da época 2000/01), lá vinha eu no banco traseiro, mais morto que vivo
desgastado por um dia a jogar à bola na areia, a torcer solenemente para que os
azuis do restelo ganhassem a partida. E a verdade é que ganharam, por 2 bolas a
zero. E é aqui que entra: Eliel. É aqui que entra, e no que á história do
campeonato português diz respeito é quase aqui que sai. Este brasileiro bisou
na partida (marcou aos 38 e 52 minutos), e colocava com 6 pontos os homens da
cruz de Cristo na liderança do campeonato (onde presumo não tenham estado muito
tempo). Eliel animou-se e uma semana depois voltava a faturar no empate dos
Lisboetas a duas bolas em casa do Beira-Mar. E a partir daqui: Adeus Eliel. Até
ao final do campeonato mais 18 jogos e um golo, da marca de penalti, ao Leiria
na jornada 21! Se olharmos para a carreira deste prodígio brasileiro vemos
nomes de alguns clubes de respeito no Brasil, como por exemplo o São Paulo, a
Portuguesa de Desportos e o Curitiba. Pelo meio passagens pela Rússia, Coreia
do Sul e Japão… todas com o mesmo destino que em Portugal: um ano, e guia de
marcha. No entanto compreende-se que quando chegou fosse grande esperança para
os lados do Restelo. Tinha um currículo invejável ao pé de alguns que por aí
andaram (e andam). Começou por fazer-lhe jus. Durou pouco. E voltou para o
Brasil, para as divisões secundárias, por onde andou até aos fim dos seus dias
como jogador. Para contar aos netos fica a história, do jogo que marcou 2 golos
ao Porto, e deu a vitória à sua equipa. Se quiser adotar uma postura ainda mais
heroica pode socorrer-se da classificação: sem aqueles dois golos a
classificação do Belenenses não se alteraria (7º lugar), mas sem aqueles dois
golos o Boavista ainda não contava com nenhum título de campeão nacional, esse
tinha voada para as Antas… mas não voou, porque Eliel escolheu aquele dia 27 de
Agosto, para se transcender, para brilhar… para jogar mais do que sabe…
3. Jean Jacques Missé-Missé (Sporting 96-97)
Bem, vamos falar de flops. Todos
os clubes o têm e certamente a corrida será equilibrada, nas por alguma razão o
primeiro nome que me vem à cabeça é o do ex jogador do Sporting: Jean Jacques
Missé-Missé. Não conhecem? Não perdem nada. Este camaronês chegou ao Sporting
na época de 96/97, oriundo dos belgas do Charleroi, rotulado de estrela (e por
alguma razão que quem se lembra de o ver “jogar” à bola é sobrenatural,
aparentemente por lá era mesmo), pelas mãos do seu ex. treinador Robert
Waseige, que exigiu trazer consigo o seu menino bonito, que havia marcado,
presumo que sem saber bem como, 37 golos nas 3 épocas anteriores. José Roquete
acedeu a este pedido, e em Junho aí estava ele, pronto a mostrar o porquê de
ser conhecido na Bélgica como um avançado “móvel e letal”. Puro engano, nada
mostrou. Foi titular nos primeiros 2 jogos do campeonato (pudera, Waseige tinha
que mostrar a Alvalade a sua arma secreta), embora em ambos tenha sido
substituído. Depois foi por mais duas vezes suplente utilizado: à 3ª e à 7ª
jornada. De letal, nada mostrou (0 golos), e de móvel porventura no
aquecimento. E de pouco lhe valeu a confiança do seu “mentor” Waisege. É que
Missé-Missé podia enganar Waisage, mas Waisage já não enganava Roquete, e como
tal em princípios de Dezembro de 96 o Sporting empatava em casa a zero com a
União de Leiria, e o treinador leonino era substituído pelos seu adjunto:
Octávio Machado, que agarrava o clube numa situação pouco confortável para
lutar pelo título nacional: no 3º posto a já 7 pontos do Benfica, 9 do líder
Porto e com um camaronês chamado Missé-Missé nas suas fileiras. O camaronês não
foi problema, Octávio Machado encostou-o para canto e este não voltou a
mostrar, nem por mais um minuto, toda a sua classe no relvado do antigo José de
Alvalade. Não foi portanto de estranhar que logo no final dessa época
(desastrosa) tenha sido transferido para o Trabzonspor. Para quem tinha dúvidas
da qualidade deste avançado, ele retirou-as, só nessa época foi recambiado de
três clubes: Trabzonspor, Dundee United e Chesterfield, acabando na época
seguinte no Ethnikos Pireus da Grécia, de onde também foi recambiado a meio:
voltou à Bélgica para representar o La Louviere. Acabou a carreira 5 anos mais
tarde, por lá, no KV Mechelen. Para a memória fica um dos piores avançados da
história do Sporting… para Missé Missé fica uma bonita coleção de camisolas…
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
2. Chiquinho Conde (Vitória de Setúbal)
Há aqueles jogadores que por
alguma razão marcaram o campeonato português. Mesmo sendo por vezes jogadores,
vamos chama-los de “classe média”, pertenceram à história de algum ou alguns
clubes, e não sendo nenhumas estrelas são nomes que nos soam a todos familiares.
Quando penso em jogadores assim, um dos primeiros nomes que me recordo é de:
Chiquinho Conde. Não sendo nenhum portento, e não tendo tido passagens com
grande brilhantismo por nenhum grande (tirando uma fugaz temporada pelo
Sporting em 94/95, onde venceu inclusivamente uma supertaça Cândido de
Oliveira), este Moçambicano fez 313 jogos e 87 golos na Liga Portuguesa, e foi
claramente uma das maiores figuras do Vitória de Setúbal nos finais dos anos
90. Confesso que essas são as memórias que tenho dele. Com a camisola do
Vitória do Sado, onde teve 6 temporadas, 2 delas entre 92 e 94(das quais não me
lembro), 1 delas antes de uma passagem, também ela fugaz pelos NE Revolution,
dos Estados Unidos, e 3 épocas, depois, consecutivas entre os anos de 98 e 2000.
Curiosamente não foi aqui que ganhou aquele que é provavelmente o momento mais
alto da sua carreira. Esse remonta ao ano de 1989. No dia 25 de Maio desse ano,
sensivelmente um ano antes de eu nascer, o que explica o porquê de eu ter que
recorrer a alguns registos para vos dar esta informação, o Belenenses, então
com Chiquinho Conde nas suas fileiras, bateu por 2-1 o Benfica no Jamor e
conquistou a Taça de Portugal. O Moçambicano não marcou, mas fez os noventa
minutos pelos azuis do Restelo. Por onde continuou, depois lá teve umas
passagens por Braga, Sporting, pela MLS, mas foi no Bonfim que sempre foi
acolhido. E as razões são facilmente explicadas. Só na última época pelo
Vitória de Setúbal, já com 34 anos, Chiquinho Conde fez 14 golos na Liga, números
que tomara muitos avançados da primeira divisão hoje em dia fazerem no pico da
sua forma. Mas como tudo, as carreiras acabam ou começam a cair. Aparentemente
o amor de Chiquinho Conde pelo futebol é que não, daí o avançado ainda ter
continuando a praticar a modalidade até aos 39 anos, onde aí sim, decidiu por
um ponto final definitivo na sua carreira, corria o ano de 2004, e o Chiquinho
Conde que pisou durante 13 épocas os palcos principais do futebol Português,
representava já o Olímpico do Montijo. Na memória fica-me um símbolo, dos que
fazem agora falta, do futebol nacional, e um profissional como já não se
fabricam. Dele hei-de sempre recordar aquela narração que tantas vezes escutei
na rádio:
“É golo do Vitória de Setúbal! Marca Chiquinho Conde!”
1. Goran Cumic (Tirsense 95-96)
Não me perguntem porquê, mas uma
das minhas primeiras memórias futebolísticas mais viva remonta à época 95/96 e
jogava no Tirsense. Recordo-me que essa foi a última temporada da formação de
Santo Tirso no escalão maior do futebol português e recordo-me como se fosse
hoje da última jornada desse campeonato. Lembro-me que a disputa pela
permanência estava renhida, e que ainda ninguém havia sido definitivamente
relegado para a segunda divisão antes dessa fatídica jornada 34. Foram nove as
equipas que acabaram apenas separadas por 5 pontos, entre o 10º e o 18º lugar
(para que conste: 10º Farense 36p; 11º Salgueiros 36p; 12ª Gil Vicente 36p; 13º
Estrela da Amadora 35p; 14º Chaves 34p; 15º Leça 34p; DESPROMOVIDOS: 16º
Felgueiras 33p; 17º Campomaiorense 33p; 18º Tirsense 31p;) Isto tudo na altura
em que ainda havia as grandes tardes de domingo de futebol na rádio, com 9
jogos em simultâneo, e à mesma hora, e em que tudo ficava decidido. O meu pai
estava a ouvir todos esses acontecimentos pela Antena 1, e eu não parava de
perguntar o resultado do jogo do Tirsense, porque, não sei porque razão,
gostava do Tirsense. Achava piada àquele equipamento preto e àquele leão branco
do símbolo com o fundo negro, e quando se tem 5 anos isto é mais que suficiente
para se gostar de um clube… A verdade é que o Tirsense acabou por perder esse
último jogo do campeonato, com um rival direto, o Campomaiorense (por 3-1 e com
dois golos de Jimmy Floyd Hasselbaink), e levou mesmo com o guia de marcha para
a segunda divisão. Desse Tirsense, recordo apenas um jogador, e foi por isso
que me lembrei desta época, deste Tirsense: Goran Cumic, mais conhecido pelo
seu primeiro nome: Goran. Poucos serão os que dele se lembram e eu também não
tenho razão aparente para me lembrar. A verdade é que havia dois guarda-redes
que por motivos que até eu desconheço, venerava por esses tempos: Ele e
Miroslav (ex. guarda redes da União de Leiria de quem podemos falar mais
tarde). Este sérvio que a equipa nortenha contratou ao Kavala (e esta
informação pesquisei-a agora), estava longe de ser uma estrela, ou um grande
guarda-redes. O que é certo, é que quando eu jogava à bola com amigos, ou mesmo
sozinho a fazer defesas contra a parede lá de casa, e me perguntavam que
“keeper” eu era, eu respondia sempre: “Sou o Goran!”. Quem é o Goran? Boa
pergunta…
Nunca mais ouvi falar nele. O
Tirsense desceu e eu arranjei certamente outra equipa sinistra pela qual
torcer. Aparentemente Goran ainda continuou por lá mais uma época,
transferindo-se em seguida para o Felgueiras, e acabando carreira em Portugal,
a jogar pelo, imagine-se: União de Montemor (o sonho de qualquer Sérvio que vem
jogar para Portugal, com certeza). Defendeu as redes de uma equipa portuguesa
na primeira liga por apenas uma época, mas ficou-me na memória. Depois sumiu-se
e nunca mais foi protagonista de nenhuma dessas tardes de domingo de futebol em
Portugal… e eu nunca mais fui Goran Cumic…
(Na imagem, Goran é o primeiro a contar da esquerda, camisola cor de rosa, na fila de cima)
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