Hoje vamos falar de um daqueles que foi sem dúvida nenhuma
um dos defesas esquerdos mais míticos do nosso campeonato. Não só pelos anos
que por cá andou, mas sobretudo por causa do penteado. Rogério Matias! Rogério
Matias que do ponto de vista da estética capilar, era uma espécie de Nuno
Gomes, mas com o cabelo menos cuidado. Não conseguia deixar de olhar para ele
sem me lembrar de uma concentração de motards. Em poucas palavras dizer que
este jogador parecia um daqueles saudosistas da era da disco do anos 70, e
fazia-o transparecer nos relvados. Futebolisticamente era um jogador de um
nível bastante aceitável. Não era menino para fazer nada de extraordinário,
para num jogo fazer sozinho a diferença, mas a verdade é que cumpria com a
função que lhe era incumbida e se há coisa que eu recordo neste jogador, é que
em dia sim, podia ser muito perigoso nas suas incursões ofensivas. O seu
currículo foi quase todo preenchido na primeira liga do futebol português.
Depois de um período onde andou um pouco perdido, após a sua formação (no
Benfica), um período onde experimentou várias equipas de escalões inferiores do
nosso futebol, foi no União de Coimbra (que para ser sincero nem sei se ainda
existe tal coisa…), que acabou por dar nas vistas e lhe proporcionou o salto
para outras paragens. Na altura (1998), foi então Carlos Manuel, que o resgatou
à equipa da cidade do Mondego, e o levou para Campo Maior, para representar o
então primodivisionário Campomaiorense (que desapareceu quando as vendas do
Café Delta deixaram de ser suficientes para alimentar clubes da Liga). Pois
bem. Rogério Matias cumpriu. Teve duas épocas interessantes na equipa do Alto
Alentejo, e foi no ano 2000 que se virou completamente para Norte. Chegou ao
Minho, a Guimarães pelas mão de Paulo Autuori (na década de 90, 5 épocas
consecutivas treinador do Marítimo, o que lhe valeu uma não muito bem sucedida
incursão no Benfica em 96-97), e a verdade é que com ou sem Autuori, Matias
prevaleceu. E digo isto porque, grande parte da temporada o Vitória jogou sem
Autuori, visto que as coisas também não correram por aí além para o treinador
brasileiro, que saiu poucos meses depois. Nessa época, os minhotos foram
treinados por ainda mais dois treinadores: Augusto Inácio e Álvaro Magalhães.
Contudo, os treinadores vinham e iam, e Rogério Matias ia ficando. E ficou por
6 épocas, mesmo com aquele corte de cabelo. Foi treinado por nomes como Jorge
Jesus ou Jaime Pacheco durante a sua incursão pela cidade berço, e com todos
eles foi sempre titular indiscutível na esquerda da defesa vitoriana. Mas foi
na época em que foi treinado por Jaime Pacheco, que algo correu mal. Não apenas
para ele, para toda a cidade de Guimarães. Corria a temporada 2005-2006, as
esperanças no Minho eram grandes. O Vitória tinha uma das equipas com mais
nomes sonantes dos últimos anos, e com um ex-campeão nacional ao leme nada
podia correr mal. Mas correu, e de que maneira! Os de Guimarães começaram mal e
nunca se endireitaram, e nem mesmo a chegada de Vítor Pontes na segunda parte
do campeonato evitou um destino que ninguém previa: a segunda liga! O Vitória
desceu, mas Rogério Matias não foi arrastado e decidiu mudar de ares. Na sus
única incursão pelo estrangeiro passou a época 2006-2007 na Bélgica, ao serviço
de um Standard de Liége cheio de nomes bem nossos conhecidos. Treinado por
Michelle Preud´Homme contava como jogadores como os portugueses Sérgio
Conceição, Ricardo Sá Pinto, Areias ou Nuno André Coelho. Ou com jogadores
também bem conhecidos do nosso campeonato como Defour, Witsel ou Onyewu. E para
quem gosta de andar atento aos campeonatos internacionais foi neste Standard,
nesta época, que apareceram jogadores como Fellaini, Dembélé ou Dante. O que é
certo é que isto não foi suficiente e a equipa de Liége acabou a Jupiler Legue
num modesto 3º lugar. No ano seguinte Rogério Matias estava de volta a Portugal
e de regresso ao Norte. Para acabar a carreira em Vila do Conde, ao serviço do
Rio Ave. Estiveram longe de ser as suas épocas mais áureas, e por isso mesmo em
2009 encostou as botas. Mas para quem anda atento ao nosso campeonato
dificilmente será esquecido. Sobretudo em Guimarães. No futebol atual, vestir a
camisola do mesmo clube 6 temporadas consecutivas é algo que já não se usa.
Rogério Matias fê-lo e por isso mesmo ficou na memória de um clube.
Caderneta da Panini
"Para quem já está farto de ter cromos repetidos"
quinta-feira, 15 de agosto de 2013
quarta-feira, 14 de agosto de 2013
14 - Juninho Petrolina (Beira-Mar 01-04)
O auge! Aquele momento da carreira de um jogador em que ele atinge o seu máximo potencial. Este período para muitos jogadores pode durar toda uma carreira, para outros é apenas um pico de forma passageiro e que desvanece fazendo-os voltar ao nível dos normais. Foi um auge destes, ou algo parecido com isso, que Juninho Petrolina viveu durante as épocas que vestiu a camisola do Beira-Mar. Sempre orientado pelo mítico António Sousa, este médio brasileiro de características ofensivas, permaneceu em Aveiro 3 anos, e durante esse período foi sempre, ou quase sempre, o jogador mais influente da sua equipa. Na altura, recordo-me, chegou-se a falar do interesse dos “grandes” do futebol nacional, e mesmo de alguns clubes estrangeiros neste “aparente prodígio” (Que cedo desapareceu), que o Beira-Mar recrutou dos brasileiros do Santa Cruz. E realmente o caso era digno de analise por parte do scout dos grandes clubes. Porque Juninho, em 3 temporadas, vestiu a camisola dos aveirenses para liga quase em 60 ocasiões, titular indiscutível e maestro daquele que foi porventura o Beira-Mar mais seguro de sempre na primeira liga (as 3 épocas com Juninho Petrolina proporcionaram ao Beira-Mar por três vezes a manutenção, sempre terminando a Liga num lugar confortável em relação à linha de água, coisa que ultimamente não tem acontecido, e resultou na relegação da equipa de Aveiro para o segundo escalão esta temporada). Quanto a Juninho Petrolina, no aspeto individual, a sua melhor época em Aveiro foi sem dúvida a última, a de 2003-2004. Participou em 28 jogos e fez 8 golos, o que é honestamente positivo para um médio, ainda para mais um médio de uma equipa com objetivos modestos. Estes números podem ser mais facilmente explicados se tivermos em consideração as características do jogador: Homem de forte (e fácil) remate e que aparecia muito bem em posição de finalização. Esta última época pode não lhe ter valido um contrato com um grande, mas valeu-lhe uma viagem até à capita, para representar o Belenenses. O treinador dos azuis do Restelo de então, Carlos Carvalhal, viu neste brasileiro um jogador que podia levar os lisboetas para um novo nível. Mas não foi isso que aconteceu. Aliás, o que aconteceu esteve muito longe disso. Em Belém foi o principio do fim do Juninho que parecia ainda poder encantar nos nossos relvados durante mais algumas épocas. Em toda a temporada fez 24 jogos (todos para um campeonato) e a sua veia goleadora desapareceu (marcou apenas um golo, à jornada 17, perante o Vitória de Setúbal), e a sua desorientação fica bem patente no seu registo disciplinar: depois de 3 épocas em Aveiro, em que viu, no total, 7 amarelos, chega ao Belenenses, e numa única temporada (2004-2005), carimba na sua ficha o seguinte pecúlio: 9 amarelos e 2 vermelhos! Muito mau para um defesa. Incompreensível para um médio. A partir daqui foi o descalabro. Juninho na época seguinte ainda tentou reencontrar-se consigo próprio, voltando ao Brasil, para representar o Naútico, mas 6 meses depois regressava ao país onde foi feliz! Jogou a temporada 2005-2006 ao serviço do Penafiel, mas já não havia nada a fazer pela sua carreira. E no ano a seguir estava a jogar no poderosíssimo campeonato de Hong Kong, numa equipa com o nome maricas de: Happy Valley. Mas a sua aventura asiática também não durou mais que alguns meses e decidiu regressar definitivamente ao Brasil (em 2007), e onde ainda está ativo. E querem saber quando é que a carreira de um jogador atinge definitivamente o fundo do poço? Então aqui vai: desde o seu regresso ao Brasil em 2007 até ao dia de hoje, portanto nos últimos 6 anos, Juninho Petrolina representou nada mais, nada menos que 12! 12! Clubes diferentes! Para não dizerem que as informações ficam completas, aqui fica o nome das 12 equipas que contaram com o antigo médio do Beira-Mar nas suas fileiras na última meia dúzia de anos: ABC; América RN; Confiança; Atlético BA; São Luiz; Picos; Botafogo PB; Juazeirense; Central; Juazeiro; Sergipe; Concórdia;
Pode haver jogadores com muito toque de bola. Com muitas
histórias para contar. Mas camisolas ninguém tem mais que Juninho Petrolina…
terça-feira, 13 de agosto de 2013
13 - Rui Gregório (Belenenses 98-00)
Cá estamos nós de novo e hoje para falarmos de um daqueles
jogadores que passaram anos e anos no campeonato português, mas que eu só me
recordo de um ou outro momento, ou então de ouvir o seu nome nos relatos da
rádio que consumiam os meus domingos à tarde… e claro, da caderneta da Panini.
Foram muitos os cromos que eu tinha deste jogador, porque forma muitos os anos
que ele por cá andou, na grande maioria, pela primeira liga. O seu nome, esses
muito dificilmente alguma vez o esquecerei: Rui Gregório! Não tem nome de
estrela, e não o era, mas não deixava de ser um jogador muito útil a qualquer
equipa, o que é aliás, facilmente provado com o facto de este jogador se ter
conseguido manter uma dezena de épocas no escalão maior do futebol nacional.
Mas Rui Gregório é daquele tipo de jogadores que ficou com a sua carreira
arruinada no dia do seu batismo: Quando os seus pais decidiram chamar-lhe
Gregório. Fizemos uma revolução em Portugal em 1974, para acabar com a
ditadura, e continuamos a deixar que hajam pessoas com o nome Gregório. Algo
está errado. Em 1895 Oscar Wilde escreveu uma comédia chamada: “A importância
de se chamar Ernesto” (Este blog também é cultura), a carreira deste jogador
bem se podia resumir ao título: “A importância de se chamar Gregório!”. Porque
a verdade é que Rui (E vamos ficar-nos só pelo primeiro nome), conseguiu
contornar o estigma e representar 5 diferentes clubes na primeira liga:
Belenenses (2 vezes distintas), Vitória de Setúbal, Tirsense, Felgueiras e
Santa Clara. Confesso que é nos azuis de Belém que mais me recordo dele. Não da
sua primeira passagem por lá, onde jogou entre 87 e 93, é, aliás formado na
equipa do Restelo. Mas sim da segunda, quando em 1998 regressou ao clube que o
formou, onde se manteve até ao ano 2000. Muitos cromos e recordações tenho eu
desse Belenenses de Figueira, Tuck, Neca ou claro, o eterno Marco Aurélio. De
lá partiu para os Açores, onde cumpriria a sua última época no nosso escalão
maior ao serviço do Santa Clara (2001/2002), sem que antes, na época de 2000/2001,
tenha ajudado a equipa de Ponta Delgada, orientada por Manuel Fernandes e
Carlos Manuel (uma dupla no mínimo peculiar), a garantir a subida na II Liga.
Tirando estes dois clubes, pouco me lembro de Ru Gregório, mas a verdade é que
também jogava naquela equipa do Tirsense de 1994/1995 que garantiu um 8º lugar
e a melhor classificação de sempre dos de Santo Tirso na Liga (Onde foi
orientado por Eurico Gomes, que agora só treina em países onde haja petróleo).
Também fez parte da equipa do Felgueiras, treinada por Jorge Jesus, que alinhou
uma única época na primeira liga, onde partilhou o relvado do Estádio Dr.
Machado Matos, com, entre outros, por exemplo Sérgio Conceição. Antes de tudo
isto, em 1993/1994, esteve uma época ao serviço do Setubal, do famosos Setúbal
de Yakini e treinado por Raúl Águas. Muitas memórias terá com certeza Rui
Gregório do campeonato nacional. Algumas tenho eu de Rui Gregório. Por muito
que passem ao lado da fama, é, e sempre foi, de jogadores como este que se fez
a história do nosso campeonato. Para tranquilizar os fãs posso dizer que o clã
Gregório continua a espalhar magia pelos nosso relvados, pois os dois filhos
deste jogador do Belenenses, estão a dar seguimento à carreira do pai. Se algum
dia ouvirem falar de Gonçalo ou de Tomás Gregório, não é engano, eles existem
mesmo. Para terminar deixem-me dizer-vos o seguinte: o nome completo deste
senhor é Rui Pedro Prata da Conceição Gregório… Há coisas mesmo giras, não há?
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
12 - Marcelo (Benfica 95-96)
Estamos de regresso, e para voltarmos em grande, vamos reviver um desastre! Um desastre da gestão futebolística de Manuel Damásio, antigo presidente do Benfica, e que teve o seu auge na época de 95/96, quando este senhor decidiu praticamente destruir toda uma equipa encarnada, que tinha sido campeã duas épocas antes, sob o comando técnico de Toni, e construir toda uma nova armada, que estava (e esteve!) muito longe de ser a armada invencível. Uma das razões para tal ter acontecido, é que a tripulação do barco, não era grande coisa. O Benfica que começou a época com Artur Jorge no comando técnico, e acabou com aquele que durante anos foi o pronto de socorro da direção do clube lisboeta quando algo corria mal: Mário Wilson. No final: Porto campeão (sob a batuta de Bobby Robson, o 2º título do único penta que o nosso campeonato conheceu…), e o Benfica a 11 pontos de distância. Mas esta história começou muito mais cedo. E a forma como começou, é provavelmente tão ou mais importante do que a forma como acabou. Que foi a política de transferências levada a cabo no Verão de 95, e que teve resultados desastrosos, e não só para o Benfica (Já lá vamos…). Saíram 17 jogadores! (Entre eles algumas referências o Benfica de então, como César Brito, Isaías, Mozart, Paulo Madeira, António Veloso, Cláudio Caniggia ou Vítor Paneira), e entraram praticamente outros tantos. Para colmatar estas ausências o Benfica não quis investir muito e dedicou-se ao mercado nacional. Foi ao Algarve (no caso ao Farense), buscar por exemplo King. Defesa central brasileiro, com pés extremamente perecidos com tijolos, que também tinha representado o Sporting de Braga anteriormente, e que para futura referência, se alguém perguntar, eu nunca pronunciei aqui o seu nome. Mas a grande fezada da direção do Benfica vinha de… Santo Tirso! O Tirsense que tinha acabado de conquistar um histórico 8º lugar (melhor classificação de sempre da equipa na primeira liga), e que por isso mesmo se viu privada de alguns dos seus melhores jogadores, como por exemplo Giovanella, que brilharia anos mais tarde ao serviço do Celta de Vigo. E duas dessas estrelas (ou super estrelas, devo dizer?!?), vieram parar à Luz, pela mão de Damásio. Falamos do defesa Paredão, que devido ao facto deste ser um blog de bom gosto, eu me vou abster do direito de comentar as suas habilidades futebolísticas (Se bem que não vaio grande mal ao mundo com a sua contratação, apenas participou em 6 jogos na liga… nada que o tivesse impedido de ter tempo suficiente para marcar um golo na própria baliza contra o Leça, em plena Luz…), e o outro, a grande coqueluche da equipa de Santo Tirso, e a grande desculpa para este nosso regresso: Marcelo! Não sei se perceberam que este texto não é sobre o jogador em si. É sobre tudo aquilo que a época 95/96 representou para o Benfica. E Marcelo é a personificação ideal para tal explicação. Havia feito nada mais nada menos que 17 golos com a camisola do Tirsense na época anterior, um deles ao Benfica, o que é honestamente positivo, mas apanhou um Benfica em mudança, e que jogava muito pouquinho à bola. Marcelo, que até tinha as credenciais necessárias para brilhar, nunca se afirmou. Marcou 7 golos na liga é verdade. Mas também é verdade que fez mais de 2000 minutos, e participou em mais de 30 jogos. E para marcar esses 7 golos, teve que falhar 50. Na época seguinte, o Benfica voltou a mudar tudo (era hábito para os lados da Luz nos anos 90: acaba-se a época, baralha-se e volta-se a dar). E Marcelo foi junto na corrente e acabou no Alavés. Era tarde de mais para ele, a sua época gloriosa de 94-95, tinha sido obra do acaso, e o guia de marcha para as divisões secundárias inglesas aconteceu poucos meses depois. O curioso: Ainda veio a Portugal acabar carreira, em 2002, com a camisola da Académica, porventura porque achava que vestir de preto era o que lhe dava sorte. Não era! As camisolas não jogam à bola. Na sua época de regresso (2002-2003), 14 jogos… 1 golo, marcado em Coimbra num empate 2-2 com o Vitória de Guimarães. Marcelo podia ter rendido mais, é verdade. Mas o Benfica passou ao lado da segunda metade dos anos 90, e Marcelo passou ao lado do Benfica (e normalmente ao lado da bola…). Quem mais se tramou com isto tudo? Pois é! O Tirsense! Depois de um fantástico oitavo lugar (num campeonato a 18 equipas), na época anterior, perdeu as suas referências e em 95-96… o trambolhão! Lanterna vermelha, último lugar no campeonato, e o inicio de uma queda vertiginosa que só acabaria nos distritais. Manuel Damásio tinha de facto um dom muito especial…
(Na foto Marcelo à direita de Hassan, avançado marroquino que passou pelo Benfica, mas que foi de certeza em Faro (onde esteve ao serviço do Farense), que deixou mais saudades... Parafraseando o grande Toni: A culpa é do Hassan, caralho?!?)
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
11. Gilmar (Vitória de Guimarães 94-99)
A Caderneta da Panini vai de novo
recuar até aos meus nostálgicos anos 90, e subir até ao Norte, especificamente
ao Minho, para falar daquele que é o jogador do Vitória de Guimarães desses
tempos que mais me recordo: Gilmar! Desse Vitória, antes de mais nada, do que
me lembro com mais entusiasmo é do equipamento. Na minha opinião o mais bonito
que o clube da cidade berço teve desde que vejo futebol. Era uma indumentária
da Adidas, com um patrocínio à farmacêutica Bayer, que só por si já conferia um
estatuto de “grande” e “internacional” a este VSC. E a verdade é que por estes
tempos era mesmo. Não que agora não o seja, mas recordo-me de uma mítica
eliminatória contra o Parma (na altura um poderoso Parma, com jogadores como Buffon,
Canavarro, Chiesa ou Crespo nas suas fileiras), que fez parar toda a cidade, em
que depois de uma derrota por 2-1 em Itália a equipa portuguesa bateu os
transalpinos por 2-0 no D. Afonso Henriques, seguindo para a eliminatória
seguinte onde cairia aos pés dos Belgas do Anderlecht. Se formos ver agora,
estamos a falar de um Vitória com Zahovic, Capucho, Neno, Fernando Meira ou Vítor
Paneira… mas o curioso é que se me perguntassem isso quando me comecei a
escrever este texto: “Diz-me o nome de um jogador que pertencia à equipa do
Vitória de Guimarães que arrumou com o Parma da Taça UEFA?” Eu só teria duas
respostas: Gilmar ou Arley. Arley, e para rematar já esta questão porque achava
piada ao nome deste brasileiro e ao seu cabelo muito pouco penteado nos cromos
da minha caderneta Panini. Gilmar, porque a ideia que tenho dele é a de um dos
melhores pontas de lança que passou em Portugal a jogar fora dos “três grandes”.
É óbvio que isto quando se fala de “três grandes” está-se a meter de lado, na
minha opinião injustamente a verdadeira alma vitoriana, mas certamente todos
entendem o que quero dizer por isto. A minha ideia está longe de estar errada.
Pelo menos é isso que dizem os números de Gilmar na primeira liga portuguesa:
Nas 5 épocas no Vitória (e pelo meio a época de 95/96 que para o avançado foi
para esquecer), marcou 48 golos só no campeonato. A uma média de quase 10 golos
por época, sendo que nunca fez mais que 30 jogos (recorde-se que na altura o
campeonato tinha 34 jornadas). Não são muitos os avançados que se podem
orgulhar de fazer uma dezena de golos por época durante 5 épocas no mesmo
clube, não sendo esse mesmo um declarado candidato ao título. Pois bem, Gilmar
pode. É por isso que eu o recordo. E provavelmente por jogar num ou no melhor
Vitória de Guimarães da minha era…
domingo, 14 de outubro de 2012
10. Andrzej Juskowiak (Sporting 92-95)
Já aqui falei de Mielcarski, um dos jogadores do FC Porto com quem mais simpatizava dos anos 90, e agora chegou a vez de falarmos daquele que era o jogador do Sporting CP, que usufruía de um estatuto idêntico. Curiosamente também era Polaco, também ele avançado, e o seu nome conseguia ser ainda mais difícil de pronunciar: Andrzej Juskowiak! As razões para eu gostar deste jogador nada tinham a ver com algum jogo sinistro para a GameBoy Color como o antigo jogador do Futebol Clube do Porto, mas sim a um golo que eu me recordo apontado por este avançado oriundo da Polónia que vi vezes sem conta numa daquelas cassetes de VHS que não me cansava de ver e hoje não me canso de recordar. Lembro-me que esta em particular remontava a época de 93/94, porque era aquela que eu via mais vezes, pois de todas as que possuía era a única em que no final a festa do título era feita a vermelho e branco. Recordo-me perfeitamente do golo em questão: um cruzamento meio atabalhoado do lado direito, para as costas do ponta de lança leonino e este num gesto acrobática consegue improvisar um pontapé de bicicleta e finalizar o lance com um grande golo. A verdade é que embora me recorde desta parte, se não tivesse acesso ao YouTube nunca vos poderia dizer quem era o adversário do Sporting nessa partida… era o Boavista, o jogo foi no antigo José de Alvalade e a equipa Lisboeta derrotou os Axadrezados por 3-1… Confesso, tudo que ainda estava na minha cabeça era aquele passe imperfeito e o gesto técnico irrepreensível do ex. leão. Se me perguntassem se Juskowiak era uma avançado monumental eu responder-vos-ia, de antemão que sim, porque para mim ele era apenas e só o homem que sacou daquela obra-prima. Vendo agora os seus números na Liga Portuguesa, com uma visão mais clara e não encantada pelos meus tempos a ouvir os comentários do Sr Gabriel Alves, parece-me claro que não estamos a falar propriamente de nenhum ás dos relvados. O Sporting adquiriu os seus direitos desportivos no principio da época 92-93, ao Lech Poznan, e por cá andou 3 épocas até se aventurar no futebol grego para representar os Atenienses do Olympiacos. Tal como eu disse anteriormente não sendo nenhum ás dos relvados tem uns números interessantes para um ponta de lança que não era dono do estatuto de titular indiscutível: 25 golos em 3 temporadas, no campeonato, com o score de 9, 6 e 10 golos na primeira, segunda e terceira temporadas respetivamente. E as minhas memórias Juskowiak ficam-se por aqui. Este Polaco encantou-me apenas e só com aquele golo, que apesar de tudo teve o condão de fazer um miúdo de 4 anos de idade perpetua-lo na memória por quase duas décadas, mesmo não tendo sido ele nenhuma das estrelas maiores do nosso campeonato… Apesar de tudo tenho que dizer que eu recordar-me disto sou invadido pela nostalgia, que me faz lembrar que eu já fui criança… e me faz lembrar o quanto eu amava e amo a ARTE do futebol, independentemente da camisola que os artistas tivesses vestida, e a prova viva disso é: Andrzej Juskowiak!
sábado, 13 de outubro de 2012
9 - Paulo Turra (Boavista 01-04)
Bem a caderneta da Panini presta
agora homenagem àquele que é possivelmente dos jogadores mais caceteiros de que
tenho memória a jogar no futebol português: o antigo central do Boavista Paulo
Turra! Para mim este nome há-de sempre ser sinónimo de “paulada no osso” aos
adversários, daquela que até doía só de ver. Era um jogador impetuoso, que
limpava tudo que mexia e lhe aparecia à frente. A verdade é que se observamos
os registos do jogador no campeonato português vislumbramos que só lhe foi exibida
por três vezes a cartolina vermelha (para este senhor isto parece-me muito
pouco) duas das vezes em jogos contra o Sporting CP, e tenho a certeza que em
ambas as situações, nas palavras de Jaime Pacheco foram mal mostrados, embora
Jaime Pacheco começa-se sempre as suas críticas com a frase “Toda a gente sabe que
não gosto de falar dos árbitros, mas…”. Contextualizando a contratação de Paulo
Turra o que vemos é que o Boavista tinha acabado de ser campeão e precisava de
construir um plantel pronto a atacar a Champions Legue. Ora sabendo-se do gosto
deste Boavista pelo futebol bem jogado a decisão da equipa técnica axadrezada
achou por bem resgatar este brasileiro à equipa do Palmeiras. Decisão que
porventura, anos mais tarde julgo que podemos dize-lo, não foi bem recebida
pelos avançados mais tecnicistas do nosso campeonato. Contudo a equipa
Portuense acabou por fazer uma caminhada interessante na maior competição de
clubes da UEFA, caindo apenas na segunda fase de grupos (na altura que o
organismo que regula o futebol europeu resolveu inventar uma geringonça muito
manhosa que só durou duas épocas…), num grupo onde também figuravam Manchester
United e Bayern Munique. Tudo isto porque, possivelmente, Paulo Turra era um
jogador que do ponto de vista defensivo, com os seus métodos pouco
aconselháveis lá ia cumprindo. Fisicamente era forte, recordo-me que a sua
aparência fazia-me sempre lembrar um imigrante de Leste, mas os seu pés não
eram um porto seguro para os seus companheiros de equipa colocarem a bola. Era
o típico central do recebe e alivia que a baliza está já aqui atrás e ninguém
quer problemas… A verdade é que nos seus 4 anos em Portugal (3 no Bessa e um
depois em Guimarães) marcou mais golos que Anderson Polga: 2, Nacional da
Madeira e Sporting de Braga foram as vítimas deste portento do futebol que
andou por aí a espalhar o seu perfume pelos nossos relvados. Depois disto, em
2005, quando já vestia a camisola do Vitória do Minho abalou para a Escócia
(definitivamente um futebol à medida de Paulo Turra), para representar o
Hibernian. Só lá esteve um ano, depois tirou o bilhete de volta para o Brasil e
ali acabou a sua carreira a jogar pelo Avaí. Na minha memória vão ficar sempre
aquelas entradas impetuosas e aqueles pés que eram um verdadeiro susto…
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